terça-feira, 28 de setembro de 2010

Distorções Cognitivas ou Falhas no Atentar?

Você sabe o que é distorção cognitiva?


Em Psicologia, costuma-se dizer que quando uma pessoa descreve a “realidade” de forma não correspondente a mesma, que ela tem uma distorção cognitiva. Uma falha no processamento “perceptivo”.

Dentre as distorções mais comuns encontram-se:


1. PENSAMENTO DICOTÔMICO (pensamento preto-e-branco, polarizado e tudo ou nada, é 8 ou 80): A pessoa vê uma situação em apenas duas categorias em vez de em várias alternativas. Exemplo: “Se eu não for um sucesso total, eu serei um fracasso.” A pessoa perfeccionista normalmente faz uso constante desse erro de pensamento e isso faz com que se sinta inadequado e desvalorizado quando o sucesso esperado não vem. Pensamentos dicotômicos tendem a contribuir para episódios depressivos e separações conjugais.

2. CATASTROFIZAÇÃO: A pessoa prevê o futuro negativamente sem considerar outros resultados mais prováveis. Exemplo: Meu filho ainda não chegou, deve ter acontecido...................... esperarei mais um pouco, pois não conseguirei dormir mesmo. Outros exemplos: Meu namorado não atende o celular, deve estar com outra. Tudo está bem entre nós, mas sei que logo começará a me desapontar, pois não chegou ainda.

3. MINIMIZAÇÃO DO POSITIVO: A pessoa diz para si mesmo que experiências, atos ou qualidades positivos não contam. Exemplo: “Eu fiz bem aquele projeto, mas isso não significa que eu seja competente; eu apenas tive sorte.” A pessoa rejeita experiências positivas insis¬tindo que elas não contam. Desqualificar o positivo tira a alegria da vida e faz a pessoa se sentir inade-quada e não recompensada. Este é o preço que a pessoa paga por não qualificar as coisas que acontecem em seu cotidiano.

4. ARGUMENTAÇÃO EMOCIONAL: A pessoa pensa que algo deve ser verdade porque “sente” (em realidade, acredita) isso da maneira tão convincente que acaba por ignorar ou desconsiderar fatos e evidências. Exemplo: “Eu sei que eu faço muitas coisas certas no trabalho, mas eu ainda me sinto como se eu fosse um fracasso.”

5. ROTULAÇÃO: Quando a pessoa habitua-se a colocar um rótulo global e fixo sobre si mesmo ou sobre os outros sem considerar as ocorrências. Por exemplo: "Eu sou idiota mesmo!" "Quão burra eu sou!" "Ele é um simplório!" "Os homens são todos igual!" Esses rótulos são simplesmente abstrações que levam à raiva, ansiedade, frustração e baixo amor próprio.

6. LEITURA MENTAL: A pessoa acha que sabe o que os outros estão pensando e não considera outras possibilidades mais prováveis. Exemplo: “Ele está pensando que eu não sei nada sobre esse projeto.” "Ele pensa que sou uma idiota." É possível perceber essa distorção cognitiva quando apresenta-se um trabalho acadêmico em público, pois normalmente a pessoa estará fazendo a seguinte leitura mental: "Ele está me olhando assim pois deve estar pensando que estou falando abobrinhas."

7. SUPERGENERALIZAÇÃO: A pessoa tira uma conclusão negativa radical que vai muito além da situação atual. Exemplo: "Nessa escola não tenho amigos, assim como era no colégio anterior." A pessoa vê um episódio negativo como uma rejeição amorosa e escabele um padrão de pensamento para situações similares. Outro exemplo comum: "Todos os meus namorados irão me trair."

9. PERSONALIZAÇÃO: Ocorre quando a pessoa guarda para si mesmo a inteira responsabilidade sobre um evento que não está sob seu controle. Por exemplo: "Eu não cuidei bem do meu filho, por isso ele está internado no hospital". "Meu namorado me traiu porque eu estava estressada." Esse tipo de distorção cognitiva gera muito sofrimento psicológico, pois está embasado na emoção "culpa".

10. DITADURA DOS DEVERIAS: É muito comum em pessoas classificadas como Obsessivo-Compulsiva, pois emprega constantemente os termos: "eu deveria", "eu tenho que". Pessoas com características perfeccionistas utilizam esse erro de pensamento diariamente gerando ansiedade constante. A pessoa também cria expectativas exageradas em relação ao comportamento dos outros, gerando afetos negativos quando estas não são preenchidas, bem como, adoecimento psicológico do tipo: estresse, ansiedade generalizada, depressão. E, também, acontecimentos indesejáveis como separação conjugal são pertinentes a esse tipo de distorção cognitiva. Bem como, conflitos entre pais e filhos, educadores e educandos, gerências e subordinados, entre outras relações interpessoais.

11. VITIMIZAÇÃO: A pessoa tende a se sentir vítima e não responsável pelas suas escolhas. Percebe-se sem sorte ao invés de perceber que "Quem faz para si faz!" e que ela mesma é o "comandante do seu navio", o "diretor da sua novela." Por exemplo, tende a culpar os outros por sua má sorte no trabalho ou no amor.

Mas o que a Análise do Comportamento tem a dizer sobre isso?

Para os Analistas do Comportamento, a “Distorção Cognitiva” não é um processo interno de processamento, mas sim uma falha no comportamento pré-corrente de atentar.

O que seria um pré-corrente?

Pré-corrente é um conceito usado quando se trata de cadeias comportamentais como no exemplo abaixo:

Nossa comunidade verbal nos reforça quando relatamos coisas e eventos, mas para isso é necessário que atentemos a aquele evento antes. Atentar é um comportamento operante encadeado com outro comportamento operante (verbal) de relatar (Tacto). Quanto mais correspondentes com a situação relatarmos melhor seremos reforçados.


Acontece porem de que as vezes, a comunidade é deficiente na apuração do fato do qual estamos relatando, e com isso passamos a relatar com baixa correspondência (Ponto-a-Ponto) com o evento ou coisa. Sendo assim passamos também a não nos atentarmos "corretamente" ao que nos cerca "distorcendo nossa percepção" do evento.

Quando a pessoa relata seu próprio comportamento, esse fenômeno pode ocorrer também.
Sendo assim a pessoa passa a construir "autoconceitos" distorcidos pois entre o seu fazer e o seu relatar não há correspondencia, ou essa é feita de forma incompleta. É papel então do terapeuta corrigir essa deficiência da comunidade verbal do cliente e ensiná-lo a relatar cada vez mais correspondente a sua "realidade" e assim corrigir o problema do comportamento de atentar.



Referências:

B. F. Skinner (1957). Comportamento Verbal

Borges, N. B. Uma compreensão Analítico-Comportamental das "Distorções Cognitivas" Anotações feitas em Palestra na XIX ABPMC no dia 25/09/2010.

Sobre a tipologia das distorções cognitivas. Blog: http://noranadirsoares.site.med.br/index.asp?PageName=DISTOR-C7-C3O-20-20COGNITIVA






Nenhum comentário:

Postar um comentário