terça-feira, 19 de outubro de 2010

O que é análise funcional?

É muito questionado em psicologia sobre o que um analista do comportamento faz. E geralmente a resposta é Análises Funcionais. Mas de que consiste essa tal de Análise Funcional? 
Vou tentar esclarecer pois o que vem a ser a Análise Funcional, que diferencia a Analise do Comportamento de todas as outras Psicologias.





Para entendermos Análise Funcional precisamos voltar a um certo filosofo do empirismo inglês chamado David Hume (1711-1766) e sua crítica ao conceito de causalidade. 
Em seu livro Tratado da Natureza Humana (1739-1740), Hume argumenta que toda noção de causa que formamos é na verdade formada pelo hábito de vermos um evento seguir o outro, mas não temos como mostrar a "causa real" ela é simplesmente inferida pelo observador do evento. 
Por exemplo:

Quando vemos uma pessoa bater um taco de sinuca em uma bola, e logo após essa bola se movimentar. Inferimos que o movimentar da bola foi "causado" pena batida do taco, porque geralmente no passado sempre que vimos um taco bater em uma bola de sinuca a mesma se movimentou. Mas a "causa" em si não pode ser observada. Esse é também conhecido como o problema da indução, na filosofia, pois problematiza a observação que vinha sendo tratada como uma forma de se chegar a verdade. 


Isso pode ser expresso dessa forma: - O fato de acharmos que o sol nascerá amanhã não deriva de nenhuma verdade, mas simplesmente de que vimos durante vários anos o sol sempre nascer no dia seguinte. Mas não é uma certeza.

O sol nascer amanhã não é uma certeza, mas é inferido de nosso hábito.


Hume problematizou toda a filosofia, e ciência e todos os filósofos depois dele tiveram que lidar com o problema da causalidade. 


Dentre eles Ernst Mach (1838-1916), físico e filósofo alemão que buscou construir uma escola de pensamento fora do mecanicismo Newtoniano, visto por ele como metafísico. Mach parte da crítica da causalidade de Hume para críticar a ciência mecanicista de sua época que criava conceitos que preenchiam a lacuna da causalidade (o que existe entre o bater o taco e o mover a bola de sinuca) como a força, a gravidade, etc. e as davam uma realidade não natural.

Darwin influênciou dentre outros Mach e Skinner.

Mach que havia lido A Origem das Espécies (1859) de Charles Darwin, utilizou-se do principio de seleção natural para explicar de onde atribuímos causa aos fenômenos.Segundo Mach o que fazemos é um comportamento adaptativo que visa a economia de ações do organismo. Criamos conceitos e causas para simplificarmos nossas observações naturais do mundo. Esses não existem (como na crítica de Hume) mas são formados através de nossa ação adaptativa ao mundo. 

Mach entende a percepção (e Skinner tbm) não como algo passivo, mas como uma ação do organismo em adaptação com seu mundo, e chama essa ação de relação funcional dos sentidos. 

Mas então o que assumiria a causa e o efeito na filosofia de Mach?

A Probabilidade, ou seja, o numero de vezes em que vemos uma bola de sinuca se mover ao ser acertada por um taco é nos dá uma probabilidade de previsão para batidas futuras. 


Não podemos afirmar com certeza (causa e efeito), mas podemos relacionar variáveis controláveis (independentes) com a variável observável (dependente) e medir qual a probabilidade de mudança na segunda. 


Skinner logo em seus primeiros trabalhos passa a utilizar-se da Análise Funcional em sua ciência do comportamento, (com ótimos resultados) e desde então o Analista do Comportamento tem ela como prática. 


3 comentários:

  1. Bom texto, Marcos. Caso não tenha, sugiro aquisição do dvd O EMPIRISMO E O CETICISMO do Curso Livre de Humanidade. A aula do Bolzani Filho - Hume: o sono dogmático da razão - é magna.

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  2. Obrigado pela dica.

    Adoro essa problemática da filosofia.

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  3. Amei! Agora posso fazer tranquila minha prova da disciplina "Método de Observação em Psicologia" rsrs
    Uhuuuuu!

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