sexta-feira, 1 de abril de 2011

Conflitos entre o Ter e o Querer

Hoje estava eu conversando com uma amiga no facebook sobre o método PPT (PERSONAL PROGRAMMED TEACHING) utilizado na escóla que estudo inglês, este que foi inspirado no PSI (Personalized System of Instruction) do professor Fred. Keller. E da conversa tive várias ideias para postar aqui no blog.

Dentre elas está esta tradução do Superego Freudiano para um linguajar contextualista e funcional da Análise do Comportamento.

Minha amiga havia comentado que achava o método as vezes meio ruim, pois dava muita "liberdade" para os alunos, que poderiam "enrolar" vários dias na mesma lição.



Para quem não sabe, esses métodos são uma aplicação tecnológica direta das pesquisas realizadas pela Análise Experimental do Comportamento ao sistema educacional.
Ele é baseado exclusivamente em reforçamento positivo contingente ao responder "correto", sendo assim o aluno ativo no seu aprendizado respondendo e produzindo reforçadores contingentes (imediatamente) ao seu responder, construindo repertórios "passo a passo" de forma a que não sofra insegurança ou ansiedade no caminho.

Olha ascarinhas de "animadas" das crianças do ensino tradicional

Estes sistemas buscam excluir o controle aversivo do ensino tradicional baseado principalmente em modelação (o professor "passa" a matéria, o aluno copia sendo reforçado pela similaridade de sua cópia), e controle aversivo (o aluno precisa fazer as atividades propostas pelo professor, ou reprovará, levará bronca, notas vermelhas, etc.)



Outro ponto que esse sistema também exclui é a necessidade de "Classes" pois os alunos, caminham sozinhos e no próprio ritmo, isso retira também outro controle aversivo que é o esquema de tempo (quase sempre de 1 ano), em que se o aluno não responder adequadamente a todas as atividades dentro desse tempo, reprovará.

A minha amiga disse que as pessoas precisam desse controle aversivo, pois senão não fazem as coisas. Então disse a ela, que nossa cultura, é quase que exclusivamente baseada no controle aversivo, estamos tão acostumados a esse tipo de controle, que é fácil concluir que ele é o único realmente eficaz, e tornar o aluno mais "livre" talvez reforce uma "vagabundagem" desse aluno.

Eu próprio, e creio que todo mundo dentro dessa cultura, fez, faz ou irá fazer coisas sob controle aversivo (contra a sua vontade, coisas que não fazem sentido para ele, coisas porque precisa, etc...), e com o tempo passa a descrever essas situações como "obrigações", em que se "tem" que fazer tais coisas.

Passamos então a nos comportar baseados em regras que descrevemos a nós mesmos (auto-regras), agindo muitas vezes concorrentemente a outras contingências presentes.

Ex: Fazemos faculdade porque "temos" se não  - podemos não arrumar empregos bons, sermos desacreditados socialmente, etc..., mas o melhor seria ficar em casa, ir pro bar, jogar um videogame.

Esse "conflito entre contingências" e não entre "desejos", produz sentimentos de culpa, desanimo, dentre outros...



Vivemos sob contingências contraditórias, quase o tempo todo e graças a um treinamento cultural, tendemos a escolher sempre o "ter" ao invés do "querer".

Então respondendo minha amiga, tendemos a achar que se tivermos algum controle aversivo que facilite o ter, tendamos a fazer as coisas "certas", mas será que fazer mesmo um curso de inglês tem sentido pra vida dela? Em outras palavras, fazer inglês produz ou pode produzir outros reforçadores para ela alem de esquiva de insucesso profissional?

Pensando em uma perspectiva diferente mas chegando a conclusões parecidas, Freud ao analisar a repressão sexual no final do século XIX e inicio do XX, chamou essas auto-regras e contingências aversivas controladoras de Superego, que nada mais é do que todo o controle social contraditório ao orgânico e ao ontogênico da pessoa, podendo ser representado como brilhantemente cita Skinner como Moisés e seus 10 Mandamentos (representando o Superego) contra o velho Adão (representando os impulsos do Id).



Para fechar então grande parte do sofrimento e dos "problemas comportamentais/mentais" que enfrentamos nos nossos dias são decorrentes desse conflito não resolvido entre o "ter" e o "querer", em outras palavras, da concorrência entre contingências culturais vs ontogênicas e filogênicas.


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